Variações no custo com dieta afetam o risco da atividade leiteira?

Na atividade leiteira, como em qualquer outra, há diversos eventos dinâmicos que fogem do controle do produtor. Para algumas dessas situações, não há um comportamento histórico definido e, com isso, não é possível mensurar possíveis repetições futuras e, portanto, são situações conceituadas como incertezas.

Porém, há outras ocorrências em que, por mais que não sejam possíveis prever com exatidão, existe um pressuposto de que o comportamento histórico tende a se repetir no futuro.

Dessa forma, existe uma probabilidade calculável de ocorrência de cada valor ou faixa de valores no futuro e, por isso, diz-se que são situações sujeitas a risco.

O preço do leite é um exemplo de evento cuja probabilidade de ocorrência futura pode ser calculada.

Nesse texto falaremos um pouco mais sobre os riscos econômicos da atividade leiteira, apresentando simulações baseadas nos custos de produção e no comportamento histórico do preço do leite.

Como avaliar o RISCO?

Para avaliar o risco utiliza-se de cálculos de probabilidade para verificar a hipótese de ocorrência de um determinado acontecimento, com base em informações de eventos que já aconteceram no passado.

Para fins práticos, o risco seria a chance de um determinado evento acontecer no futuro de acordo com o comportamento do passado.

Em outras palavras, considerando valores deflacionados, podemos dizer que se o preço do leite nos últimos 15 anos esteve acima de R$1,80 em 50% do tempo, nos próximos anos esse comportamento tende a se repetir com essa frequência.

Conhecendo este comportamento, pode-se realizar análises matemáticas e estatísticas para calcular a probabilidade de obter lucro com a atividade leiteira, considerando o custo de produção no momento da análise.

Além disso, pode-se obter o valor que mais ocorreu ao longo dos anos.

Dessa forma, levando em conta a deflação, esse valor é o preço mais provável de ocorrer no futuro. Vale ressaltar que existem anos atípicos, como foi o de 2020, onde o preço do leite sofreu algumas oscilações que fogem do comportamento histórico.

Quando se dispõe da informação e se mensura o risco da atividade, tem-se conhecimento dos fatores que nele interferem e é possível trabalhar para minimizá-los.
O RISCO atual da atividade leiteira

Analisando dados de custo de produção de leite do ano de 2020, do Departamento de Inteligência da Labor Rural, realizou-se uma análise do risco por meio da Simulação de Monte Carlo, que mensura a probabilidade de ocorrência dos eventos futuros.

Para a análise, foram consideradas as médias mensais do leite para o estado de Minas Gerais dos últimos 16 anos, do banco de dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA-Esalq/USP).

Os preços da série histórica foram corrigidos pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI).

Este é um índice calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e amplamente usado para realizar o deflacionamento dos preços, de forma a analisar os valores sob uma mesma base inflacionária, o que permite uma interpretação sem efeitos da inflação.

As fazendas do banco de dados da Labor Rural possuem atualmente um custo total de R$1,66 por litro de leite produzido. Para esse custo, foi calculada a probabilidade de obter lucro ou prejuízo, conforme o Gráfico 1.

Gráfico 1: Probabilidade de obter lucro com a atividade leiteira.

Fonte: Elaborado pelo Departamento de Inteligência da Labor Rural. Custo de produção de janeiro/2020 a dezembro/2020 e série histórica de preços do leite pago ao produtor (CEPEA-Esalq/USP) de janeiro/2005 a fevereiro/2021. Valores corrigidos pelo IGP-DI de fevereiro de 2021.

No eixo X está representado o lucro estimado com base na série histórica de preços e no eixo Y está representada a distribuição de probabilidade de ocorrência. Como pode ser observado, há probabilidade de 24,2% de não existir lucro para o custo total da amostra.

Interpretando esses resultados, para algumas pessoas 24,2% pode ser um risco baixo, já para outras, pode ser um risco elevado.

Isso acontece porque a aversão ao risco é individual e cabe a cada produtor analisar seus dados de forma individualizada. Além disso, a decisão do que ele gostaria de assumir deve ser analisada comparando, por exemplo, com riscos de investimentos alternativos.

De qualquer forma, conhecendo este risco e sabendo os fatores que nele interferem pode-se tomar decisões para amenizá-los.

Custo com a dieta e o risco da atividade leiteira

Não é novidade que o par concentrado e volumoso tem alto impacto nos custos de produção do leite. Juntos representam cerca de 51% do custo total, em média, nas fazendas assessoradas pela Labor Rural.

Também sabe-se que tanto volumoso quanto concentrado sofrem flutuações de preço ao longo do ano, visto as flutuações da relação de oferta e demanda, taxas de câmbio, sazonalidade de produção, demandas do mercado interno e externo, dentre outros.

Por isso é importante considerar diferentes cenários na análise de risco.

Custo com concentrado e volumoso

Para demonstrar o impacto dessas oscilações, simulou-se variações entre -20% e 20% no custo de concentrado por litro de leite e da mesma forma procedeu-se com o custo de volumoso por litro de leite.

Com essas variações, foram realizadas 81 combinações, como demonstrado na Tabela 1. No cenário ocorrido, ou seja, sem variações simuladas, o somatório desses dois componentes de custo representou R$0,85 por litro.

Tabela 1: Simulação do custo de volumoso e concentrado em reais por litro de leite.

Fonte: Elaborado pelo Departamento de Inteligência da Labor Rural. Dados de janeiro/2020 a dezembro/2020, corrigidos pelo IGP-DI de fevereiro de 2021.

Esta é uma análise de sensibilidade, que busca avaliar quanto um resultado é influenciado pela variação dos fatores que o compõem.

Em primeiro lugar, foi avaliada a variação no custo de concentrado e volumoso somados, por litro de leite, de acordo com as variações individuais do custo de concentrado e de volumoso por litro. Neste caso, a variação simulada flutuou entre R$0,68 por litro a R$1,02 por litro.

Vale ressaltar que essas variações não ocorreriam apenas por maiores ou menores preços dos insumos, mas também em função da escala de produção da fazenda, estratégias de manejo alimentar, dentre outros.

Em seguida, avaliou-se a variação do custo total de produção em função das variações apresentadas acima. Nesse caso, não foram consideradas variações no restante do custo de produção, que representou R$0,81 por litro de leite.

A simulação está demonstrada na Tabela 2.

Tabela 2: Simulação do custo total em reais por litro de leite.

Fonte: Elaborado pelo Departamento de Inteligência da Labor Rural. Dados janeiro/2020 a dezembro/2020, corrigidos pelo IGP-DI de fevereiro de 2021.

A partir dessa simulação, foi realizada a análise de risco para cada um dos possíveis custos totais simulados em relação ao preço médio do litro de leite no estado de Minas Gerais nos últimos 16 anos, corrigido pelo IGP-DI de fevereiro de 2021, chegando ao resultado apresentado na Tabela 3.

Tabela 3: Risco da atividade leiteira em relação ao custo por litro de leite do concentrado e volumoso.

Fonte: Elaborado pelo Departamento de Inteligência da Labor Rural. Custo de produção de janeiro/2020 a dezembro/2020 e série histórica de preços do leite pago ao produtor (CEPEA-Esalq/USP) de janeiro/2005 a fevereiro/2021. Valores corrigidos pelo IGP-DI de fevereiro de 2021.

Dessa forma, é nítido o impacto desses custos no risco da atividade leiteira, que variou de 8,9% a 50,9%.Tendo essa valiosa informação em mãos, é importante tomar atitudes para minimizar os efeitos deste risco.

Tomando decisões com base em análises de risco

O primeiro passo é monitorar os custos e saber o quanto representam por litro de leite produzido.

Partindo dessas informações, deve-se sempre buscar uma maior eficiência técnica e econômica da atividade. Com o risco da atividade acompanhado, pode-se dizer que “jogamos com todas as cartas na mesa” e é possível tomar decisões mais claras.

Quer saber mais sobre o risco econômico da sua atividade? Entre em contato com um de nossos consultores.

Fonte:

CEPEA; EMBRAPA.

Autores:

Elena Castellani – Estudante de Medicina Veterinária da Universidade Estadual de Londrina
William Mariano – Zootecnista Consultor Labor Rural