Em propriedades de bovinocultura leiteira, principalmente aquelas em que os animais ficam a pasto, é muito difícil encontrar quem não tenha problemas com carrapato. Não é mesmo, produtor?
As perdas causadas pelo carrapato-do-boi (Rhipicephalus boophilus microplus) no Brasil são estimadas em 3,24 bilhões de dólares por ano e estão relacionadas com os impactos diretos e indiretos causados pelo parasitismo.
Além da perda de produtividade, comprometimento do bem-estar animal e custo com carrapaticidas, os carrapatos atuam na transmissão de patógenos responsáveis por doenças importantes, como a Tristeza Parasitária Bovina e favorecem a penetração de larvas de moscas causadoras de bicheira.
Conhecer esse inimigo é a melhor maneira de combatê-lo, minimizando os impactos sanitários, econômicos e ambientais ocasionados por ele.
A vida do carrapato se divide em duas etapas (Figura 1).
A etapa de vida livre tem início após o desprendimento da teleógina (“fêmea ingurgitada”) do animal e queda no solo.
Posteriormente, ocorre a postura, incubação e eclosão dos ovos. O tempo de duração dessa etapa depende de fatores como a temperatura e umidade relativa, podendo durar de 50 dias no verão até 100 dias no inverno.
Após eclodirem, as larvas permanecem na forrageira até que as condições estejam propícias à subida no hospedeiro, quando inicia a etapa de vida parasitária.
Já no animal, as larvas se transformam em ninfas e, posteriormente, em carrapatos adultos, momento em que as fêmeas são fecundadas e dão continuidade ao ciclo.
Após a fecundação é quando ocorre a maior sucção de sangue do animal. Essa etapa dura, aproximadamente, 22 dias sendo que a temperatura, umidade e alguns outros fatores podem interferir no tempo e na intensidade da infestação.
Figura 1 – Ciclo de vida do carrapato.
Fonte: Embrapa Gado de leite.
Raças zebuínas (ex: Nelore) possuem uma maior capacidade de “autolimpeza”, sendo que 1 a cada 100 larvas que sobem no animal tornam-se fêmeas ingurgitadas. Enquanto que, em raças europeias (ex: Holandês) essa relação é de, aproximadamente, 15 a cada 100 larvas sendo, portanto, mais afetadas em condições de infestação.
Em relação à pastagem, forrageiras com crescimento ereto (ex: gênero Panicum – Mombaça), que permitem uma maior entrada de luz solar na base da planta desfavorecem o ciclo de vida livre, ao contrário de plantas com elevada cobertura do solo (ex: gênero Cynodon – Capim Estrela), que oferecem umidade e sombra aos ovos e larvas.
Dentre os métodos utilizados na prevenção e controle de carrapatos, o mais utilizado é a aplicação de carrapaticida, seja via parenteral, pulverização ou pour on.
Por se tratar de formulações químicas é importante seguir sempre as recomendações contidas na bula para minimizar os riscos de intoxicação das pessoas e dos animais e a contaminação do ambiente, além de maximizar a eficiência do produto.
O uso indiscriminado de carrapaticidas leva a uma maior pressão de seleção, aumentando o número de carrapatos resistentes e reduzindo a eficiência no controle dos mesmos. Por isso é muito importante a adoção de práticas de manejo que potencializam o controle de forma eficiente.
É recomendado o uso do controle estratégico, que consiste em 5 – 6 aplicações de carrapaticida no rebanho, em um intervalo de aproximadamente 21 dias entre cada aplicação.
Esta aplicação deve ser realizada no final da época desfavorável ao desenvolvimento do carrapato, quando sua população estiver mais baixa na pastagem, em geral, baixas temperaturas e ambiente seco levam à alta mortalidade das larvas. Logo, o final do período seco do ano é uma época adequada para combater o carrapato.
Porém, como o Brasil é um país que possui regiões com diferentes comportamentos climáticos, a estratégia de controle deve ser regionalizada.
É importante ressaltar que, durante o tratamento, os animais continuem frequentando as áreas de maior infestação, para que “aspirem” a maior quantidade de carrapatos, expondo-os ao produto utilizado.
Em relação aos “animais de sangue doce”, deve-se fazer também aplicações esporádicas quando se notar infestação de cerca de 25 fêmeas ingurgitadas.
Segundo Cunha et al. (2008), o uso da adubação com ureia no final do ciclo de pastejo também pode auxiliar no controle das fêmeas ingurgitadas no solo, matando-as por contato antes que façam a postura.
Outros cuidados importantes a serem seguidos são: atentar-se à nutrição e sanidade geral do rebanho, pois animais já debilitados têm uma menor capacidade de recuperação ao serem parasitados.
Antes de introduzir novos animais na propriedade realizar o controle de ectoparasitas, minimizando assim a possibilidade de entrada de carrapatos resistentes no rebanho.
Ficou com alguma dúvida? Entre em contato conosco, não fique com o carrapato atrás da orelha!
FONTES: ANDREOTTI et al. (2019); CUNHA et al. (2008); GRISI et al. (2014); VERÍSSIMO (2015).