A China atualmente é o principal parceiro internacional do Brasil no comércio da carne bovina, e foi o destino de 58% dos embarques do produto de janeiro a setembro de 2021, o que corresponde a US$ 3,8 bilhões.
As importações de carne bovina pela China avançaram muito nos últimos anos, principalmente devido guerra comercial entre Estados Unidos e China. Em 2013, as importações de carne bovina brasileira pela China não chegavam a US$ 40 milhões.
Entretanto, no dia 04 de setembro, as exportações de carne bovina para a China foram interrompidas pelo próprio Governo Brasileiro após casos suspeitos de vaca louca terem sido notificados nos Estados de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.
A suspensão atendeu a um protocolo sanitário firmado com a China, que previa interrupção do comércio em caso de identificação da doença.
A vaca louca é uma doença fatal e afeta bovinos adultos de idade mais avançada, provocando a degeneração do sistema nervoso.
Existem duas formas para o animal adquirir a doença. O caso de origem atípica, em que a doença se desenvolve naturalmente, se tornando infecciosa para outros animais. A outra forma é por meio de contaminação, caso em que o bovino consome rações feitas com proteína animal contaminada, como por exemplo, farinha de carne e ossos de outras espécies.
No Brasil, é proibido o uso deste tipo de ingrediente na fabricação de ração para bovinos.
A grande preocupação dos países importadores de carne bovina é que os humanos podem adquirir a doença caso haja o consumo de carne infectada pela vaca louca.
Os sintomas mais comuns em humanos são perda de memória, perda visual, depressão e insônia. Caso contaminado, o paciente pode ser tratado com antivirais e corticoides. No entanto, aproximadamente 90% dos indivíduos contaminados pela doença evoluem para óbito em um ano.
A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), que foi notificada das ocorrências imediatamente, informou, logo no dia 06 de setembro, que os dois casos do mal da vaca louca registrados em frigoríficos de Belo Horizonte e de Nova Canaã do Norte (MT) foram de origem atípica e que não representavam risco para a cadeia de produção bovina brasileira.
Apesar disso, a China mantém o veto de exportações de carne bovina do Brasil até o momento.
Diante desse cenário, o que tem acontecido no mercado brasileiro? Acompanhe!
O Indicador Cepea/B3 para o boi gordo mostra que o preço médio real da arroba passou em média de R$ 313,40 em agosto de 2021 para R$ 275,38 até o momento em outubro de 2021, uma queda de 12,1% no período.
Na última quarta (20), o Indicador Cepea/B3 registrou queda 3,54%, atingindo R$ 262.90/arroba e acumulando uma queda mensal de 9,84%.
Esse movimento, entretanto, não deve se refletir ao consumidor imediatamente.
De janeiro de 2020 a setembro de 2021, por exemplo, o preço nominal do boi gordo subiu 56,5%, enquanto nos mercados subiu cerca de 47,5%. Portanto, é possível que o varejo esteja utilizando esse momento para recompor a margem de lucro.
Enquanto isso, para o produtor rural, a suspensão das exportações da China vem em um dos piores momentos para a cadeia devido ao fato dos bois que vão para o abate nos meses de setembro e outubro serem aqueles, em maioria, de sistema confinado, dado o período de poucas chuvas que o precede.
Por esse motivo, esse sistema tem custos elevados com alimentação para engorda.
O Governo Brasileiro aguarda um retorno de uma carta enviada ao ministro-chefe da Administração Geral de Alfândegas da China, em que a Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, se coloca à disposição para tratar pessoalmente sobre a suspensão das importações de carne bovina brasileira pela China.
Este movimento de suspensão prolongado por parte do Governo chinês, mesmo depois da OIE ter reafirmado o status brasileiro de “risco insignificante” para a vaca louca, indica uma possível estratégia de mercado, com o intuito de negociar preços menores para comprar a carne brasileira.
Diante deste cenário, os pecuaristas já diminuíram o abate de bois, que vem se acumulando nas fazendas, enquanto o futuro do preço da carne parece incerto.
Entretanto, o custo elevado de manutenção desses animais e a interrompimento natural da engorda podem forçar o abate desses bovinos por parte da indústria, levando a um aumento da oferta de carne no mercado brasileiro, e a consequente queda dos preços no varejo.
Apesar disso, o cenário futuro para os próximos meses ainda é muito incerto.
Caso a China retome rapidamente as importações de carne bovina, por exemplo, o excedente acumulado nestes dois últimos meses não chegaria ao mercado brasileiro e os preços permaneceriam em patamares elevados.
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