A pecuária leiteira é presente em quase todos os municípios brasileiros, mais precisamente em 98,8% deles, segundo os apontamentos do IBGE, 2016. E ainda que existam operações mecanizadas e até mesmo ordenhas robotizadas, algumas tarefas dependem exclusivamente do homem, como por exemplo, o tratamento de enfermidades, inseminação artificial.
A mão de obra é um fator imprescindível no sistema produtivo e é o segundo item que mais impacta no custo de produção da pecuária leiteira, ficando atrás apenas do concentrado. No PDPL/PCEPL, em 46,7% das propriedades a mão de obra é contratada, e ainda que, 53,3% das propriedades sejam prioritariamente de mão obra familiar, 26,7% delas possuem pelo menos um funcionário contratado. Ou seja, apenas 26,6% das propriedades são exclusivamente de mão de obra familiar, as outras 73,4% dependem, ainda que algumas menos, de mão de obra contratada. E como gerenciar essa mão de obra na fazenda?
Quantos produtores já saíram da atividade devido à “ineficiência” da mão de obra? Quanto custa trabalhar gestão de pessoas em uma empresa rural? Ou melhor, você: produtor, técnico, estudante, encara a pecuária leiteira como um empreendimento rural? De fato, existem muitos amadores na atividade, até mesmo por conta da sua ampla abrangência no cenário nacional e nitidamente é possível observar o produtor de leite negligenciar a gestão de pessoas na propriedade.
O custo da mão de obra não se limita no tão almejado intervalo de 10,0 a 15,0% da renda bruta da atividade, seu impacto vai muito além do desembolso direto. Uma dieta balanceada pelo melhor nutricionista precisa de um bom funcionário para chegar ao cocho e assim, à boca da vaca! Os colaboradores são responsáveis diretos pelos resultados da fazenda! Quanto que o produtor perde com a morte de uma bezerra, que o funcionário não conseguiu identificá-la como doente? Junto com o valor da categoria animal, a reposição da fazenda, o ganho genético… Tudo vai para “ralo abaixo”! A grande dificuldade é fazer com que os produtores enxerguem que tudo isso e muito mais, pode ser evitado, ou pelo menos minimizado, sem aumento de custos. E sim, é necessário investir em gestão de pessoas para desenvolver o capital humano da propriedade.
Existem diversos modelos aplicáveis e que podem ser trabalhados nas fazendas, como por exemplo, estabelecimento de metas acordadas em conjunto com os funcionários. Abaixo um exemplo adotado em uma das fazendas do Programa PDPL/PCPEL com diferentes bonificações, em relação à porcentagem do salário, quando atingido os valores (média anual) propostos.
A redução da mortalidade na fase de cria de 15,0% para 5,0% em uma fazenda com 100 bezerras nascidas por ano, garante no mínimo 10 fêmeas a mais nesse intervalo. Por que não destinar duas fêmeas em bonificação para o funcionário da cria? O produtor ganha oito bezerras a mais no ano podendo até reduzir o custo com medicamento da propriedade, apenas por maior higiene e atenção.
Uma hidratação com soro antes do antibiótico, a limpeza bem-feita dos utensílios, a colostragem e o desmame realizados corretamente, o fornecimento ideal do trato, são diversos os exemplos de manejos que podem ser melhores trabalhados e adotados por meio de protocolos definidos em treinamentos da mão de obra. Você, produtor, consultor, quanto tempo destinou no último ano para capacitação de sua equipe de trabalho? É indispensável qualificar, ainda que em forma de reciclagem, os funcionários, rotineiramente.
A bonificação pode ser considerada um estímulo bastante eficaz para melhoria de resultados, em algumas fazendas com impacto maior do que em outras. Porém, o reconhecimento do bom trabalho da mão de obra não precisa ser necessariamente com bonificações em dinheiro, um simples elogio no mural da fazenda pode surtir efeitos satisfatórios.
As pessoas que convivem muito tempo com um determinado problema ou situação, passam a encarar como algo natural e claro, é difícil sair da zona de conforto, do comodismo e frequentemente nos deparamos com aquela velha frase: “Sempre trabalhei dessa forma, sempre foi assim”; e sim, fazendo sempre da mesma forma não é possível obter resultados diferentes.
Acompanhamento de metas mês a mês, ambientes limpos e organizados, funcionários uniformizados, mural com indicadores da propriedade exemplificados de uma forma didática e clara, reuniões com toda equipe e diversos outros exemplos, é o diferencial que deveríamos explorar. Certamente que, condições básicas de trabalho devem ser cumpridas, folgas, férias, é direito de todo funcionário e o mínimo que uma empresa pode oferecer ao colaborador.
Você, produtor, pode ter um carro extremamente sofisticado, com piloto automático, mas ele não vai funcionar, sem a água e o óleo do motor, pode até resistir por um tempo, mas certamente irá fundir! Como está sua revisão? Acredite, independe do carro, a regra é a mesma. Capacite, gerencie, valorize e zele por sua mão de obra, ela é a “água e o óleo do motor” da sua fazenda!
Autora do artigo: Bianca Gallardo, estudante de Agronomia, estagiária do PDPL.
29/08/2019