A alta de preços dos principais itens do custo de produção, como a soja e o milho, faz com que os produtores de leite busquem soluções para otimizar a nutrição dos bovinos, buscando equilíbrio entre o produtivo e econômico.
Sem nenhuma tendência de queda nos preços desses insumos à curto prazo, uma alternativa encontrada pelos produtores de leite é a utilização de subprodutos industriais a um preço mais acessível na alimentação do rebanho leiteiro, como a cevada, caroço de algodão, melaço, polpa cítrica, dentre outros, em busca de incremento na produção e redução das despesas.
Segundo o boletim do leite publicado pelo CEPEA – ESALQ/USP em janeiro de 2021, o custo com concentrados e suplementos minerais no acumulado do ano de 2020 teve um aumento de, aproximadamente 44% na “média Brasil”.
Sendo que o milho, um dos principais ingredientes, teve um aumento de 48,79% no seu preço médio de 2020 em relação à 2019. Em relação à soja, se analisarmos somente o mês de janeiro desse ano, os preços estão 109,6% superiores em relação ao mesmo período do ano passado.
Impulsionados por essa valorização dos preços dos alimentos, os produtores se enxergam em uma situação onde são obrigados a buscar alternativas para que a atividade mantenha seu retorno econômico satisfatório.
Nesse sentido, temos a cevada, um resíduo de matérias primas utilizadas em cervejarias e que serve como um potencial substituto à soja, por exemplo. Esse alimento é rico em fibras, tem boa palatabilidade e é fonte de metionina, um aminoácido limitante à produção de leite.
Além disso, sua oferta não sofre efeitos de sazonalidade, devido ao grande volume produzido pelas cervejarias durante todo o ano. Como a distribuição fica restrita às regiões próximas das indústrias cervejeiras e devido ao alto teor de umidade desse coproduto, a logística de transporte e armazenamento deve ser analisada para reduzir as perdas e manter a qualidade do alimento. Outro fator importante é a grande variação das características do material comprado, sendo necessário o monitoramento periódico da qualidade das amostras.
Primeiro, precisamos analisar as características bromatológicas dos alimentos utilizados na alimentação de bovinos leiteiros. A cevada possui teores de 25% de matéria seca (MS) e 23% de proteína bruta (PB) (valores que podem variar de acordo com tipo de processamento utilizado na indústria). Enquanto o farelo de soja possui 88% de MS e 48% de PB. Em seguida, podemos calcular o valor unitário da proteína bruta de cada um, da seguinte forma:
Cevada: 25% MS x 23% PB x Preço ($) = 0,0575 x Preço ($)
Soja: 88% MS x 48% PB x Preço ($) = 0,4224 x Preço ($)
Tirando os preços, temos que a relação entre proteína bruta da cevada/proteína bruta do farelo de soja é de 0,0575/0,4224 = 13,6%. Quando novamente consideramos os preços unitários dos alimentos, podemos concluir que vão respeitar essa mesma relação encontrada. Significa que, quando o valor unitário deste subproduto industrial representar até 13,6% do valor unitário do farelo de soja, é viável a sua inclusão na dieta em substituição ao farelo.
Se essa relação preço da cevada/preço do farelo de soja for maior que 13,6%, não é viável fazer a substituição. De acordo com o CEPEA – ESALQ/USP em Campinas – SP, o valor médio do farelo de soja foi de R$2.734,01/tonelada na 1ª quinzena de janeiro de 2021. Nesse caso, seria viável a compra de cevada desde que a tonelada da mesma custasse no máximo R$371,82 (mantidos os valores bromatológicos citados acima).
Os níveis máximos de inclusão de cevada na dieta variam de 15 a 30% da matéria seca total e os custos de transporte e armazenamento devem ser considerados de acordo com cada caso.
Vale ressaltar que é importante analisar todos os aspectos técnicos envolvidos e como podem impactar nos resultados financeiros da atividade. Através de uma gestão que tenha como objetivo final aumentar a margens de ganho, devemos traçar estratégias para melhorar a eficiência no uso dos recursos disponíveis e buscar soluções inovadoras para que a atividade se torne cada vez mais atrativa.
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Fontes: CEPEA, CQBAL, MILKPOINT, TECNOLOGIA NO CAMPO
Julio Cesar Moreira – Estagiário da Labor Rural