Desde o final de dezembro do ano passado, quando surgiu e foi decodificado na China após o aparecimento de vários casos, o COVID-19, novo agente do coronavírus tem causado grande alvoroço na população, agitando o mercado financeiro e impactando diretamente o agronegócio mundial. Em março de 2020, o dólar, por exemplo, chegou a ultrapassar a marca dos R$ 5,00 e neste cenário, a agropecuária brasileira pode ser diretamente afetada, principalmente no que diz respeito a compra de alguns insumos para a atividade, como ração, fertilizantes, agrotóxicos e sementes. Por outro lado, no entanto, as oscilações do câmbio, com a consequente valorização do dólar, podem tornar os insumos importados mais caros, o que torna, como resultado esses mesmos insumos produzidos nacionalmente mais baratos e competitivos no mercado local e externo.
A China, que é a origem da pandemia, tem papel considerável no que diz respeito ao desempenho comercial do setor agropecuário brasileiro. Entretanto, de acordo com os pesquisadores do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro), até o mês de fevereiro/2020 não houve redução significativa do balanço de exportações brasileiras para o país asiático. Pelo contrário, no que diz respeito ao setor de carnes, apesar da dificuldade de introduzir seu produto nos portos do país asiático, pela escassez de mão de obra oriunda da doença, as exportações em fevereiro/2020 cresceram, quando comparado ao mesmo período de 2019. A exportação de soja, por sua vez, teve queda.
De acordo com a OCDE, Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, o crescimento da economia mundial deve ter uma queda de 0,5 pontos percentuais, reduzindo para 2,4%, o menor crescimento desde 2009. Em relação ao agronegócio, a disseminação do vírus tem ocasionado queda no preço de algumas das principais commodities: a soja caiu 3,6%, o milho 2,5% e o algodão 4,5%, por exemplo.
No que diz respeito à cadeia láctea brasileira, de acordo com o ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Benedito Rosa, as demandas por produtos agroindustrializados, como bebidas e derivados de leite, podem sofrer de maneira mais acentuada com o surto de COVID-19 na China e em todo o mundo. Isso se deve à sensibilidade de demanda e variação de preços, aspectos mutuamente dependentes.
Muito tem se falado a respeito das consequências dessa pandemia na economia mundial, mas a realidade é que ainda pouco se sabe sobre seu real impacto e como ela se comportará a partir de agora. Possivelmente pode haver o comprometimento da balança de exportação dos países com maior número de pessoas acometidas pelo vírus, o que, neste caso, resultaria em uma quantidade maior de produtos permanecendo no mercado interno, aumentando a oferta e, por conseguinte, reduzindo o preço pago aos produtores.
É válido ressaltar que o impacto econômico, em especial no que diz respeito ao agronegócio, deve variar de acordo com o segmento, atingindo de forma distinta cada cadeia, como a carne e os lácteos, por exemplo. Isso decorre, destacadamente, do nível de exposição/dependência que cada cadeia produtiva se encontra em relação ao dólar.
O que se pode afirmar por ora é a necessidade de atenção de produtores e consultores, que devem acompanhar o desdobramento da situação atual nos próximos meses e atuar com prudência da porteira para dentro, buscando otimizar os custos e maximizar sua produtividade, a fim de que se absorva o mínimo possível quaisquer impactos diretos em sua atividade.
Rayane Melo, estagiária da Labor Rural