Muito se diz que da crise também surgem grandes oportunidades. O cenário de pandemia vivido mundialmente, fez com que fossem necessárias grandes mudanças de hábitos nos mais diversos setores da sociedade. Muito do que era considerado normal, habitual e até mesmo correto antes da pandemia do Covid-19, passou a ser repensado.
Nesse contexto, por muito tempo a biossegurança não recebeu a devida importância pela sociedade, no entanto, esta se tornou uma ferramenta essencial na prevenção, controle e contenção do novo Coronavírus, causador da doença infecciosa Covid-19.
A biosseguridade não é puramente uma área técnica, mas um dos pilares do sistema de produção para se obter o máximo de retorno dos investimentos feitos.
Sabe-se que mesmo diante de uma pandemia, o setor agropecuário não pode parar. Trata-se de um setor essencial, o qual produz alimentos para que a população consiga se estabelecer e manter.
E como todos os outros setores da sociedade, o meio agropecuário e as propriedades rurais precisam se adequar à realidade vivida. Dessa maneira, o que por muito tempo foi negligenciado, hoje é imprescindível para o desempenho da atividade: a biosseguridade dentro das propriedades rurais.
De forma geral, a biosseguridade se refere à aplicação de normas e procedimentos a fim de prevenir a introdução, disseminação e saída de agentes causadores de doenças infecciosas em qualquer sistema de produção animal. Pode-se definir algumas áreas de atuação para implementação e aprimoramento da biossegurança dentro das fazendas, sendo elas: funcionários, visitantes e veículos; saúde e movimentação dos animais e procedimentos de limpeza e desinfecção.
Quanto às pessoas envolvidas no processo produtivo, é recomendado que, quando possível, haja redução no número de funcionários atuando simultaneamente. Uma sugestão para redução de pessoas envolvidas nas atividades rotineiras é a divisão em turnos e escala entre os mesmos, o que favorece também uma maior produtividade da mão de obra.
Dessa forma, é importante que haja uma divisão clara de tarefas contendo o responsável por realizar cada uma delas, quando realizá-las, metas a serem atingidas etc. A elaboração de um plano de ação utilizando a ferramenta 5W2H, por exemplo, permite organizar melhor a gestão dos processos e das pessoas atuantes em cada um deles.
Outras variáveis relacionadas a uma melhor organização e eficiência da mão de obra são a capacitação e treinamento da mesma, além do engajamento dos colaboradores com a atividade e da boa relação entre funcionários e gestores.
Além disso, é indispensável o uso de máscaras dentro das propriedades, assim como a disponibilidade de recipientes contendo álcool distribuídos por diversos locais acessíveis aos funcionários. Os gestores das propriedades devem distribuir máscaras aos funcionários e fixar avisos da obrigatoriedade de seu uso, estimulando a adesão e demonstrando a preocupação com a integridade de todos que ali atuam.
Dentro desse aspecto cabe ressaltar a necessidade do uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s), uso de uniformes, e elaboração de Procedimentos Operacionais Padrão (POP’s) para limpeza e lavagem das mãos, dos uniformes e utensílios.
Não obstante, deve-se ter em mente que microrganismos podem ser carreados das mais diversas formas de um ambiente para outro. Uma das maneiras de se carrear esses agentes é via veículos e pessoas que adentram a propriedade. Já parou para pensar em quantas propriedades um caminhão de fretes, vendedores e até mesmo técnicos e consultores entram em uma mesma semana?
Por isso, a entrada de prestadores de serviço, visitantes e veículos nas propriedades deve ser controlada. Sugestões para redução da transmissão de agentes é a realização de agendamento e autorização prévios para visitas, questionário antes da entrada na propriedade, higienização da superfície externa dos veículos e uso de materiais de proteção descartáveis para a entrada, como luvas, toucas, aventais e protetores para pés.
Os funcionários devem receber treinamentos para que estejam aptos a identificar os riscos na sua área de atuação e quais medidas devem ser tomadas, visando prevenir quaisquer enfermidades que causem prejuízo e afetem as pessoas envolvidas, o rebanho, as lavouras e todo o processo produtivo.
Figura 1 – Modelo de placa sinalizando área restrita – Zona de Biosseguridade.
Quanto à saúde e trânsito de animais, o isolamento do rebanho é o primeiro pilar em um plano de biossegurança a ser implementado na fazenda. Ou seja, é necessário evitar a entrada de animais de outros rebanhos na propriedade. Quando for inevitável, todos os animais recém adquiridos devem ser colocados em quarentena.
Dessa forma, ganha-se tempo para que se obtenha resultados de exames desses animais e se observe alguma manifestação clínica anormal antes do contato dos mesmos com o restante do rebanho.
Outras medidas que visam reduzir o risco da introdução de ameaças biológicas são o cercamento da propriedade, a utilização de material genético (sêmen, embriões, reprodutores e matrizes) sabidamente livres de patógenos, testes sorológicos antes da compra de animais e aquisição de animais oriundos apenas de rebanhos com procedência conhecida.
A vacinação também é um dos elos que compõem um programa de biosseguridade, visto que por meio desta pode-se controlar doenças e a circulação dos agentes causadores no rebanho. Cada propriedade, seja produtora de leite, aves ou suínos, deve seguir um protocolo vacinal elaborado por um profissional da área, levando em conta aspectos epidemiológicos, fatores de risco e ainda as vacinas obrigatórias segundo a legislação.
Além disso, é válido ressaltar a importância de se realizar o controle da vida silvestre, de animais de estimação dentro das propriedades e de pragas como ratos, camundongos e moscas.
As indústrias de suínos e aves seguem rigorosos protocolos de biosseguridade e ocorre uma grande preocupação com esse aspecto dentro das cadeias produtivas da suinocultura e avicultura. No entanto, tratando-se da cadeia produtiva do leite, a biosseguridade dentro das fazendas produtoras parece não receber ainda a devida importância.
No contexto vivido nos últimos anos, granjas de aves e suínos geralmente são altamente tecnificadas, contando com uma criação intensiva e alojamento de um número elevado de animais por granja.
Por isso, a biosseguridade se tornou primordial, visto que a ocorrência de doenças e/ou circulação de agentes patológicos é um risco de contaminação simultânea de todos os animais ali alojados, o que representaria um enorme impacto produtivo e econômico. Os produtores e técnicos ligados à indústria da avicultura e suinocultura se vêem cada vez mais levados a priorizar a biosseguridade para garantir a rentabilidade das atividades.
Outro fator relevante é o mercado consumidor, cada vez mais exigente em relação aos produtos de origem animal, principalmente quanto ao uso de antibióticos na cadeia produtiva. Assim sendo, fica evidente a necessidade de se atuar mais na prevenção do que no tratamento de enfermidades.
A pecuária leiteira precisa acompanhar tal evolução que vem ocorrendo nas outras cadeias produtivas, visto que a biosseguridade é de extrema importância também nas propriedades produtoras de leite. Infelizmente não é raro nesse setor a ocorrência de compra de vacas ou novilhas sem se saber a procedência e estado sanitário das mesmas, assim como a falta de realização de quarentena com a chegada de animais externos na propriedade.
É necessário que o produtor se atente àquilo que ultrapassa sua porteira e entra em contato com seu rebanho. Medidas como a avaliação do histórico da contagem de células somáticas e análises microbiológicas do leite de vacas a serem adquiridas evita a entrada de animais crônicos e infectados com bactérias contagiosas que facilmente podem se disseminar pelo rebanho.
Algumas dessas bactérias que podem ser carreadas via úberes de vacas compradas são de difícil controle, como é o caso de Mycoplasma spp. e Staphylococcus aureus. Além disso, controlar a entrada de indivíduos na propriedade e o acesso aos bezerreiros são outras medidas aplicáveis para evitar o acesso e circulação de patógenos contagiosos na propriedade.
Diante disso, fica evidente que a ocorrência da pandemia reforçou a importância da biosseguridade, de hábitos de higiene e das rígidas medidas de prevenção, tanto para saúde humana como nos setores de produção animal e vegetal. Novos hábitos envolvendo a biosseguridade tornaram-se parte da rotina.
O Agro não para, não parou e nem irá parar, porque é um serviço essencial e para o bem comum não pode ser interrompido. Porém, é necessário que mesmo dentro das propriedades rurais todos os cuidados e medidas preventivas sejam aplicados visando a saúde de todos aqueles envolvidos na produção, isto inclui também técnicos que visitam as propriedades esporadicamente fornecendo assistência.
A prática contínua da biosseguridade nas propriedades é vital para a saúde sanitária e financeira das atividades. Além de promover a higiene e sanidade dentro do sistema de produção, a biossegurança também reflete na seguridade alimentar do produto final gerado.
Para se obter êxito em um programa de biosseguridade é preciso que haja engajamento de todas as pessoas envolvidas direta ou indiretamente no processo produtivo e na rotina de uma propriedade. Lembre-se de que a saúde humana e animal são inter-relacionadas, e que a sanidade de todos, humanos e animais de produção, deve ser o foco para que haja sucesso na atividade desenvolvida!
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FONTES: ASGAV; BRASIL ESCOLA; CANAL DO BOI; EMBRAPA I; EMBRAPA II; MAPA; NUBANK; SENAR; UCDB.