No Brasil, a implantação de florestas de eucalipto ocupa um total de 7,8 milhões de hectares. Nesse cenário, essas florestas totalizam uma área de 6,9 milhões de hectares (IBGE – 2014), representando 88% da área de reflorestamento de todo o país. O cenário econômico da eucaliptocultura vem, há alguns anos, sendo desfavorável aos produtores rurais. Insumos e mão de obra vêm acrescendo os custos de produção, não sendo acompanhados pelos preços. Atualmente, são praticados em função da crise econômica, principalmente no setor siderúrgico. O setor é responsável por impulsionar a maior fonte de mercado do eucalipto: a energia.
Em função da rápida expansão da área cultivada com eucalipto no território nacional, somada à falta do conhecimento técnico da cultura por grande parte dos produtores, surgiram inúmeras empresas prestadoras de serviço na área de reflorestamento. Com os momentos de crise, surgem dúvidas referentes à viabilidade dessa terceirização.
Devido a isso, o Campo Futuro, durante este ano, realizou o levantamento de custos em duas regiões com diferentes sistemas de implantação. As análises foram feitas em Cristalina, Goiás, onde a implantação das florestas é realizada pelos produtores, e em Guarapuava, no Paraná, onde os produtores fazem a terceirização de todas as atividades.
Ao comparar os custos de todo o período de implantação entre as duas regiões em estudo, percebemos uma distinção significativa. No Gráfico 1, exposto abaixo, há uma diferença de R$ 471,42 por hectare implantado na região paranaense, que adota a terceirização. Outro fator que deve ser levado em consideração é o nível de tecnologia. Além de a terceirização gerar um resultado mais caro, comparado com a propriedade modal de Cristalina, o manejo adotado, em termos tecnológicos, é inferior. Assim, proporciona menor produtividade das florestas.
Gráfico 1: Comparativo de custos de implantação das florestas, incremento médio anual e Margem Bruta por área entre Cristalina – GO e Guarapuava – PR.
Analisando a situação das duas regiões, podemos concluir que terceirizar as operações do plantio não é viável economicamente. Como evidenciado, os produtores paranaenses possuem maior custo com a implantação de florestas de eucalipto. Os produtores goianos possuem uma produtividade dobrada. Consequentemente, uma Margem Líquida da atividade de R$ 2.224,86 por hectare.
O investimento inicial para se produzir borracha natural em escala comercial não é barato. A afirmação foi analisada e concluída na edição 13 dos Ativos da Silvicultura do ano de 2016. Nela, os custos de formação dos seringais foram apresentados. Observando todo o investimento em terra, floresta, benfeitorias e máquinas para produção de um quilo de borracha natural, na região de Parapuã – SP, Gaúcha do Norte – MT e Goianésia – GO, concluímos que se necessita de R$ 13,38, R$ 12,64 e R$ 6,74 respectivamente. O valor é para florestas que já estão em fase de estabilização da produção.
Devido a isso, a produção deve ser bem planejada pelos produtores e consultores atuantes na área. O objetivo final é que o payback do investimento seja o mais curto possível, permitindo aos produtores alcançarem lucro na atividade. Além do capital inicial, para realizar a exploração da produção, os heveicultores devem ter capital de giro. Esse será destinado aos custos de produção com tratos culturais da floresta, custos com colheita e demais gastos da atividade.
Nos primeiros anos de exploração, não são todas as plantas que possuem o diâmetro ideal para serem exploradas. Esse fator aumenta a produtividade com o passar dos anos de produção. Quanto mais intensificado o manejo dos seringais com a nutrição, melhor é a uniformização das plantas da floresta e mais rápida é a estabilização.
Gráfico 2: COE (R$/kg), Renda Bruta por quilo (R$/kg), produtividade e porcentagem de plantas em exploração no decorrer dos anos no município de Gaúcha do Norte – MT.
Gráfico 3: COE (R$/kg), Renda Bruta por quilo (R$/kg), produtividade e porcentagem de plantas em exploração no decorrer dos anos no município de Parapuã – SP.
Gráfico 4: COE (R$/kg), Renda Bruta por quilo (R$/kg), produtividade e porcentagem de plantas em exploração no decorrer dos anos no município de Goianésia – GO.
Os gráficos apresentados acima representam os custos operacionais efetivos das regiões em estudo. A análise é feita em relação à renda bruta unitária coletada no dia da realização dos painéis. É possível notar que, no primeiro ano de sangria em todas as regiões estudadas, o custo operacional efetivo supera a renda bruta. Essa realidade se estende ao segundo ano de exploração na região de Goianésia, onde o custo com mão de obra fixa contratada para realizar sangria é o mesmo desde o início da exploração. Nota-se que, lá, a percentagem de árvores em sangria se estabiliza primeiro do que nas demais regiões. Como resultado, indica alta uniformidade das florestas em função da irrigação do seringal por todo o primeiro ano.
Com os gráficos apresentados, a conclusão é que o preço praticado atualmente pelo mercado não é suficiente para cobrir nem mesmo o custo operacional efetivo do primeiro ano. A tese abrange, ainda, o segundo ano de colheita na região de Goianésia. Tal fato deve ser levado em consideração pelos heveicultores para prepararem o seu fluxo de caixa para o início de exploração da cultura: o que pode levar até duas safras para obtenção de um retorno financeiro.
Pela primeira vez, o projeto Campo Futuro realizou levantamento de custos da atividade de heveicultura da propriedade modal em Goianésia. Na região, o sistema predominante de contratação dos trabalhadores é através de Carteira de Trabalho. Há uma grande especulação e curiosidade sobre custos de sangria do sistema. Devido a isso, em seguida, fizemos as comparações com os custos das outras duas regiões em estudo: Parapuã – SP e Gaúcha do Norte – MT.
Tabela 1: Custo com colheita por hectare, por quilo e porcentagem da renda bruta em Parapuã – SP, Gaúcha do Norte – MT e Goianésia – GO no período de estabilização da floresta.
O custo com a colheita, somado ao transporte interno da produção em Goianésia, é de R$ 3.385,35 por hectare. O resultado é 44% mais caro quando comparado ao custo de Parapuã, que é de R$ 2.345,07 por hectare. Por outro lado, é 21% mais barato que a fazenda modal de Gaúcha do Norte, que resulta em R$ 4.328,44 por hectare.
Analisando o custo por quilo de coágulo produzido, podemos concluir que o custo com colheita mais o transporte é semelhante entre a região de Goianésia e de Parapuã. Nas duas, há um sistema de parceria de 35% da renda bruta. Já comparando com Gaúcha do Norte, é compensatório o sistema de contrato por Carteira de Trabalho. A afirmação aparece uma vez que 50% de toda a renda bruta são destinados ao pagamento dos sagradores.
Notavelmente, as duas principais regiões produtoras de borracha do país possuem custo com a atividade de colheita muito semelhante. O maior gasto por hectare pertence à região goiana, indicando uma melhor remuneração dos trabalhadores. Os trabalhadores goianos são mais eficientes na sangria, uma vez que conseguem produzir 25% mais látex por árvore em produção.
Com os preços atuais, muitos produtores de eucalipto não vêm avançando na implantação de florestas de eucalipto em um segundo ciclo produtivo. Por isso, passam a utilizar a área onde antes existiam outros empreendimentos agropecuários mais rentáveis. Em 2016, o projeto Campo Futuro realizou o levantamento de custo de produção da eucaliptocultura em quatro diferentes regiões produtoras do país. Somente em duas, Cristalina – GO e Rio Verde – GO, as propriedades modais vêm avançando a um segundo ciclo.
Logo no primeiro ano após a colheita, o produtor tem que realizar as atividades de desbrota, adubação de cobertura e combate a formigas. Todos os manejos são adotados nas duas regiões. Apesar das atividades se concentrarem basicamente nesse primeiro ano após a colheita, a desbrota demanda um grande investimento em mão de obra. A propriedade modal de Cristalina gasta R$ 400,00 por hectare. No local, toda a operação é realizada pelos trabalhadores da propriedade. Já a propriedade modal de Rio Verde gasta na operação R$ 1.200,00 por hectare.
Gráfico 5: Renda bruta por hectare, custo operacional efetivo e custo total por hectare do segundo ciclo da região de Cristalina – GO e Rio Verde – GO.
Analisando o Gráfico 5, é possível concluir que há uma grande diferença nos gastos acumulados de uma região para outra. Isso se destaca em função de os produtores de Rio Verde não possuírem máquinas e implementos para a condução. Com isso, terceirizam todas as atividades da implantação de florestas de eucalipto.
Dessa forma, os produtores não possuem qualquer custo com manutenção de máquinas e equipamentos. A renda bruta cobre os custos operacionais efetivos nas duas regiões que conduzem o segundo ciclo, porém não consegue cobrir todos os custos totais de produção. Consequentemente, gera-se prejuízo econômico de R$ 29.486,92 e R$ 4.820,59 em Cristalina e Rio Verde respectivamente.
Mesmo com o excelente incremento médio anual do segundo ciclo da cultura em Cristalina, de 44 metros cúbicos por hectare/ano, e em Rio Verde de 28 metros cúbicos por hectare/ano, as regiões possuem produtividade 10% menor comparada ao primeiro ciclo da cultura. Os preços praticados atualmente não tornam a condução do segundo ciclo viável e atrativa economicamente. Os produtores, assim, precisam fazer uma avaliação econômica para avançar. Afinal, cada propriedade possui uma particularidade e um custo de produção diferente da outra.